quarta-feira, 5 de maio de 2010

Desordem total

Dia: 26/04/2010. Segunda observação.
Meu segundo dia observando foi desastroso. Como a aula é depois do intervalo, ao entrar na sala pude perceber o que havia ocorrido no intervalo: guerra de biscoito, isso mesmo, os alunos haviam feito guera com a merenda escolar. A sala tava um caos, o chão só tinha bolacha, ao perceber isso, a professora elegeu três alunos e os colocou para varrerem a sala, feita essa tarefa, inicia-se mais uma rodada de sermão, que começa com uma liçao de moral, falando das pessoas que passam fome no mundo, que fariam de tudo para ter aquela comida que foi jogada fora (o que foi muito conveniente), passa pela ideia de que os meninos são indisciplinados, que nao respeitam ninguem (o que me espanta na hora que ela me coloca no meio da discussao e diz: "nem a visita de uma pessoa como essa voces respeitam, imaginem o que ela vai falar".), e chega ao ponto primordial quando ela afirma que odeia dar aula a crianças de 5ª serie porque eles não tem respeito com ninguem, que prefere dar aula ao ensino medio que tem mais noção do que é uma sala de aula e que a respeita (o que, ao meu ver foi muito inconveniente).
A tarefa do dia foi atividade avaliativa em grupo e de consulta, essa consistia em questoes a respeito do tema explicado, mas ao lado das perguntas havia a pagina que se encontrava a resposta no livro, mais uma vez pude perceber a falta de atividades que façam os alunos pensarem e discernirem o assunto.
Enquanto os alunos faziam o exercicio fui conversar com a porfessora, perguntei a respeito do ensino, das dificuldades e limitacoes deste. Ela me falou da falta de participaçao da familia no processo de aprendizagem do aluno, da falta de recursos disponiveis para a qualificacao da escola, das limitaçoes das crianças em aprender, visto que a sua historia de vida muitas vezes é complexa.
Perguntei a ela a respeito do muro que faltava na escola, isso me intrigou muito, visto que a mesma possui "vizinhos" nao muito amigaveis, dai ela me contou que no dia anterior, a escola tinha sido invadida por marginais da redondeza que tinham o intuito de pegar um certo aluno e mata-lo, ali mesmo dentro da instituiçao, dai eu perguntei se eles (os professores) nao foram reclamar com a prefeitura, mas ela me disse que nao adianta, pq a escola tá assim porque esta fazendo "obras" que nunca acabam.
Por fim nosso último dialogo, no qual eu digo: "professora, estamos correndo risco de vida por estar aqui?", ela me responde: "corremos risco de vida por estar em qualquer lugar, e esse aqui é só mais um deles, de igual periculosidade."

Ah, antes que eu me esqueça, os alunos estão pensando que eu sou do juizado de menores, e que estou ali para vigia-los e ver como eles se comportam, visto que eles tem muito medo de serem "detidos" por causa do comportamento inadequado dentro da escola.

Portanto lanço algumas perguntas: porque o ensino publico brasileiro esta assim? O que fazer para melhora-lo? Como "educar" estas crianças sem a participaçao familiar?
Reflitam e comentem as respostas.

Um comentário:

Educação em foco disse...

Jamile,
Acho que realmente não é fácil ensinar hoje, mas o fato dos alunos jogarem comida no chão é um sintoma. Não significa que eles estejam fadados ao fracasso ou perdidos irremediavelmente. Creio que pedir que os alunos tirem questões de um livro para um questionário não é uma boa estratégia metodológica para lidar com a indisciplina e o desinteresse dos alunos.
Acho que também existem outros problemas. Lembra da discussão do livro a Invenção da sala de aula? Quando os autores citam no início Pigmalião de Bernard Shaw e Escola de MOnstros de Emma Wolf? Até que ponto os professores ainda não querem moldar os alunos, "replicá-los" ensinando-os respostas e deixando de lado o fato de que eles precisam aprender a pensar? Qual o palel da metodologia no ensino de história? Da Didática efetivamente. Se houvesse uma preocupação com essas questões a sala dessa professora poderia ser diferente?
Jamile, gostei das obsevações. Abraço, José Augusto.